quinta-feira, 29 de outubro de 2015

CABELO AZUL

pintei meu cabelo de azul
sem lembrar o céu
mesmo assim as estrelas surgiram
entre uma orelha e outra
e a lua ficou pendurada na minha nuca
pela manhã o sol irrompeu o meu crânio
derreteu o meu juízo
que se transformou nessas palavras

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DISCURSO SEM PALAVRAS E SOBRAS

já que as palavras não são mais necessárias
e que sobrou somente nós
ou sobramos
não importa o que eu diga
ou o que sobrou
ou sobraram
não importa nós
ou eu
então não preciso dizer o que é preciso dizer
imagine o que eu poderia dizer neste momento
imagine a sua resposta
e depois veja o que sobrou
ou sobramos
e mesmo que eu dissesse
e você respondesse o que eu imagino que você responderia
nem precisaria imaginar as palavras
nem o que poderia sobrar
ou sobramos
mas se as palavras não são mais necessárias
então pra que dizer tudo isso?
imagine o silêncio que isso provocaria
e o que poderia sobrar
ou sobramos



ASSEPSIA MATINAL

retiro o olho do sonho
reponho na vida
retiro a vida do olho
reponho no sonho
olho pro sonho
não vejo a vida
olho pra vida
não vejo o sonho
sonho viver sem olhar
vivo sem olhar o sonho
sonho viver o sonho
não vejo o que sonhar




quarta-feira, 21 de outubro de 2015

MORTO, ÁRIA

cubro o ouro
com meu couro
ouro não apodrece
abraçado ao osso
resiste ao escuro
e ao silêncio úmido
ouro não tem alma
igual ao osso

       

FANTASIA DE SILÊNCIO

masturbo a flor
cravando sangue
em sua pétala
furo o sol
com outro sol
que hemorragia o meu olho                                          
estou na mira
da conversa
sou uma palavra
que nunca será mencionada

       

terça-feira, 20 de outubro de 2015

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

HEBDOMADÁRIO

o tempo goteja sem culpa
goteja no mesmo lugar
por onde escorremos
sentimos por dentro
o tempo escorrendo
por onde escorremos


PEQUENOS SUSTOS

pequenos sustos me comovem
uma flor que conversa
pensando que o perfume é a fala
por exemplo
pensar que a poesia salva
e hasteá-la ao lado do túmulo
recitando esperas


DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...